Perguntas sem respostas

terça-feira, 29 de abril de 2008


Há 1 mês a imprensa brasileira divulga incessantemente notícias, relatórios periciais, fotos e depoimentos sobre o cruel assassinato de Isabella. Todas as redes nacionais de telecomunicações fazem questão de "divulgar com exclusividade" provas e contra-provas sobre os possíveis "responsáveis" por esta tragédia.
Me parece mais uma busca por índices de audiência do que propriamente o interesse em divulgar uma notícia e assim alertar, mostrar, sensibilizar a população para um problema tão sério como esse. Me parece que a violência desta história vai além das limitações que nos são impostas pela imprensa.
A imprensa é investigativa ? Então por que somente uma suspeita foi levantada ? A imprensa é informativa ? Então por que não lançar campanhas direcionadas aos pais, educadores, profissionais da área de saúde, todos enfim que se ocupam em cuidar de crianças, sobre os riscos diários que elas correm, muitas vezes dentro de suas próprias casas ? Sobre a obrigação de denunciar ao Conselho Tutelar qualquer suspeita de violência contra crianças ?
Em lugar disso assistimos pessoas apedrejando e julgando supostos agressores sem ao menos se perguntarem se elas próprias estão fazendo sua lição de casa, cuidando bem de seus filhos, sobrinhos, netos, alunos, crianças enfim...
Eu me pergunto: ao invés de quem, por que alguém fez isso com Isabella ? Que grave ameaça essa criança poderia significar para esse alguém ? Infelizmente Isabella é apenas mais uma das nossas crianças submetidas a barbáries praticadas por adultos.
Quantos cruéis agressores vitimizam diariamente nossas crianças no Brasil ? E no planeta ? Quem são essas crianças que na maioria das vezes nem chegam ao nosso conhecimento ? O que querem essas pessoas ? E... por que com as crianças ?

Solange Portela, ginecologista

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Curando dores, desfazendo temores... (parte 2)

quinta-feira, 17 de abril de 2008


"...é pela paz que eu não quero seguir admitindo"
Falcão ( "O Rappa" )


As pessoas que chegam até nós, após exame pericial no Instituto Medico Legal Nina Rodrigues, trazem no corpo as marcas da violência, nos olhos uma tristeza profunda e na alma a fragilidade causada pelo abalo à sua alto-estima. São, estatísticamente, na sua maioria, crianças, mulheres jovens e adolescentes.
Cabe aqui uma descrição detalhada desses três principais grupos.

As crianças chegam ao Serviço apresentando medo, insegurança, vergonha, sentimentos estes comuns a todas as vítimas de violência sexual, além de encontrarmos alguns agravantes que dão proporções ainda maiores ao já tão sério problema. Tratamos aqui da não aceitação da existência da violência por parte dos familiares, muitas vezes as próprias mães que, por questões as mais diversas tais como culturais, sociais, econômicas, etc, se recusam a encarar os fatos, tornando as crianças ainda mais vulneráveis aos seus agressores. Tratamos aqui também dos maus tratos físicos e psicológicos sofridos por essas crianças que muitas vezes fazem ainda mais distante para elas a possibilidade de contar para alguém sobre a violência que vêm sofrendo.

"...e por que essas manchas nas suas pernas ?
- Eu cai, brincando com meu irmão.
Depois de alguns minutos : - Minha mãe me deu uma surra com o cinto quando eu contei a ela..."
(criança, sexo feminino, 10 anos, vítima de abuso sexual crônico pelo vizinho).

Não podemos deixar de ressaltar os danos e consequências das tentativas de explorar sexualmente crianças, através de doces, moedas, brinquedos, etc, onde os adultos se valem desse "direito" de exercer seu poder sobre pessoas já tão indefesas e carentes.

"...se eu deixasse, ele me dava R$ 1,00...se eu não deixasse ele me dava R$ 0,50..." (ainda a mesma criança)

Temos que ficar atentos ao fato de que essas crianças vitimizadas sexualmente correm, entre outros, os graves riscos da revitimização e de virem a se tornar agressores ao longo de suas vidas.

Com referência às mulheres jovens, atingidas principalmente pela chamada "violência de rua", estas chegam ao Serviço trazendo medos e dúvidas com relação à gravidez indesejada e risco de contágio pelo HIV. Sentem-se ultrajadas nos seus objetivos de vida, visto que muitas vezes a agressão ocorre no caminho de ida ou volta para o trabalho, faculdade ou outras atividades, deixando nelas um sentimento de profunda indignação e humilhação. Muitas vezes podemos perceber nas entrelinhas dos relatos que ouvimos que, além da necessidade doentia de "satisfação" sexual do agressor, existe também o "prazer" em destruir os ideais daquela mulher.

"...eram 5 , doutora...eles me espancaram até eu quase desmaiar...depois vieram um a um...depois me jogaram na lagoa...por que isso comigo, doutora ?..."
(relato de L.S.C., 32 anos, violentada no dia do seu aniversário).

Já as adolescentes, que correm igual risco com relação à violência de rua, sofrem também muitas vezes a violência doméstica, praticada por pais, tios, amigos da família que agem como se tivessem "poder" sobre aquele corpo frágil e vulnerável.
Essas meninas carregam com elas, além da dor pelos sentimentos traídos dentro do próprio ambiente onde vivem, um sentimento de culpa que abala seriamente sua alto-estima.

É necessário que se desfaça o mito de que a violência sexual está diretamente ligada à pobreza e carências das pessoas. Sem dúvida, as classes menos privilegiadas enfrentam problemas sociais e culturais que facilitam os abusos sexuais, porém, na verdade eles ocorrem também nas classes mais abastadas da sociedade.

Solange Portela, ginecologista
Valéria Macedo, ginecologista

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Curando dores, desfazendo temores... (parte 1)

domingo, 13 de abril de 2008

Os textos que passo a publicar daqui em diante são frutos da minha experiência de 4 anos no atendimento às vítimas de violência sexual no VIVER ( Serviço de Atenção às Vítimas de Violência Sexual da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia )



"Quem não compreende um olhar,
tampouco compreenderá uma longa explicação"
( Mário Quintana )

A atenção médica às vítimas de violência sexual visa não somente promover a prevenção da gravidez indesejada e profilaxia das DST-AIDS, procedimentos estes, sem dúvida, de suma importância para restabelecer a integridade física e emocional de cada indívíduo que busca ajuda em serviços especializados. Ultrapassando os limites dos conhecimentos técnicos e dados epidemiológicos, o atendimento médico requer cuidados especiais voltados para as individualidades de cada um deles.

Para os profissionais médicos cada relato das situações pelas quais passam nossos clientes significa um novo aprendizado, onde devemos estar atentos aos detalhes do ocorrido e às emoções a nós transmitidas. Importantíssimo nos despirmos de pudores e preconceitos que possam influir de forma negativa nas orientações dadas e procedimentos a serem adotados.
É imprescindível que o cliente se sinta acolhido e respeitado para que alcancemos êxito no nosso objetivo maior que é o restabelecimento da saúde integral das pessoas que nos procuram.
Cada indivíduo deve receber informações claras e precisas sobre as medicações a serem usadas, assim como os riscos e benefícios aos quais ele está sujeito. Deve saber também que ele tem o direito de não querer usá-las, mas cabe a nós médicos orientá-los para que esta decisão seja tomada de forma consciente. Não podemos esquecer que essas pessoas estão passando por momentos especialmente difíceis e inesperados, precisando, portanto, do nosso apoio e nossa compreensão.
Diante do exposto, fica claro que o atendimento médico às vítimas de violência sexual apresenta peculiaridades próprias, fugindo à rotina da prática médica convencional.

Solange Portela, ginecologista

Valéria Macedo, ginecologista

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Pela Paz

sexta-feira, 11 de abril de 2008

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Os Olhos de Ayda

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Verdes, cor de azeitona
olhar de criança chorona...
Inesquecíveis e intrigantes raios de pureza
mesmo quando não se via beleza
Pareciam querer entender o mundo,
pareciam querer se fazer entender
Doces olhos verdes e puros de criança
descansam agora no azul profundo,
agora onde a paz os alcança.


Solange Portela
Salvador, 27/03/2008

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