Papilomavírus Humano - parte II (lesões de alto grau)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Abordaremos aqui as lesões de alto grau induzidas pelo HPV 16 e 18, principais representantes do grupo dos HPV oncogênicos, ou seja, aqueles capazes de provocar o câncer de colo uterino. É esta, sem dúvida, a principal manifestação da infecção por HPV no trato genital feminino, onde as alterações podem atingir as 3 camadas do epitélio, superficial, intermediária e basal. O tratamento será estabelecido conforme a extensão da lesão e adequado a cada paciente, podendo variar desde a aplicação do Ácido Tricloroacético a 80% até a excisão da lesão pela Cirurgia de Alta Frequência. Uma vez ultrapassada a membrana basal fica caracterizado o câncer invasivo e passa a ser aplicado outro protocolo de diagnóstico, estadiamento e tratamento.
Apesar de já ter sido encontrada a presença de DNA-HPV em até 99,7% dos tumores cervicais, apenas 1% das mulheres infectadas por um dos tipos oncogênicos do HPV apresenta risco de desenvolver o câncer cervical. A incidência dessa doença está na dependência de fatores individuais relacionados a variação de parceiros, presença de outras DST, uso de preservativos, realização periódica de exame preventivo contra o câncer ginecológico (Papanicolau), condição imunológica, alimentação rica em vitamina C, betacaroteno e ácido fólico, entre outros.
O exame de Papanicolau deve ser realizado anualmente por todas as mulheres sexualmente ativas e tem como objetivo detectar condições facilitadoras da ação viral, como as ectopias cervicais ou mesmo as lesões subclínicas. Estudos estimam que aproximadamente 75% da população sexualmente ativa entra em contato com com um ou mais tipos de HPV durante sua vida e que destes, 1 a 2% apresentam manifestação clínica, 4% subclínica, 10% latente e em torno de 60% eliminam a infecção pelo sistema imune. O teste de Papanicolau é uma estratégia de prevenção consagrada e quando realizado regularmente e por profissionais qualificados é capaz de reduzir em até 80% a incidência do câncer de colo uterino.

Vacina contra HPV
Ela tem a função de ajudar o organismo a reconhecer o HPV, através do seu sistema imune, antes de estabelecida a infecção, ou seja, é uma vacina profilática. Por isso é recomendada para meninas e mulheres jovens ( 9 a 26 anos) e deve ser administrada em 3 doses, via intramuscular. Além disso é formada por um capsídio vazio, o que significa dizer sem material genético capaz de provocar infecção ou oncogênese.
A ANVISA ( Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já tem registrada a vacina tetravalente para os HPV 6, 11, 16 e 18, porém a rede pública de saúde ainda não dispõe da vacina para a população. Ela pode ser encontrada em clínicas particulares por um preço nem sempre acessível para a maioria das pessoas.

Não podemos esquecer que os exames periódicos, o uso de preservativos, a pesquisa de outras DST e a avaliação do parceiro sexual são recursos essenciais e importantes na luta contra esta doença que representa a neoplasia maligna mais frequente em nosso país, correspondendo a 23% dos demais tumores.

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Papilomavírus Humano - parte I (lesões de baixo grau)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008


Frequentemente transmitido por via sexual, o papilomavírus humano (HPV) é um DNA-vírus responsável por uma doença infecciosa conhecida como condiloma acuminado ou verruga genital. Apesar de serem conhecidos mais de 100 tipos deste vírus, apenas em torno de 20 deles são capazes de infectar o trato genital.
De acordo com seu potencial oncogênico, ou seja, sua capacidade de desenvolver neoplasias, sejam elas intra-epiteliais ou mesmo o câncer invasivo do colo uterino, vulva, vagina ou região anal, são classificados em 2 tipos:
- alto risco: subtipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, entre outros, que quando associados a outros fatores como baixa imunidade, história pregressa de outras DST, variação de parceiros, uso de drogas, etc, possuem alta correlação com as neoplasias de alto grau (será abordado num outro post).
- baixo risco: subtipos 6, 11, 42, 43 e 44, que estão associados a lesões benignas do trato genital, como o condiloma acuminado e as neoplasias intraepiteliais de baixo grau.
Condilomas acuminados são lesões verrucosas, únicas ou múltiplas, mais frequentemente encontradas na região genital do homem e da mulher mas podem também ter localização extragenital como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laringe. O diagnóstico é dado pelo exame clínico, ou pode ser confirmado por biópsia. No colo uterino as lesões subclínicas são encontradas durante exame preventivo, que inclui a colposcopia e a citologia oncótica (exame de Papanicolau), e a biópsia dirigida. Há ainda outros testes que identificam a presença do DNA viral como hibridização in situ e captura híbrida, porém as decisões quanto à conduta devem ser feitas com base nas alterações celulares encontradas pela colpocitologia oncótica. Daí a importância da realização do exame preventivo contra o câncer para todas as mulheres sexualmente ativas, independente da presença de sintomas.
São algumas as opções de tratamento, desde a aplicação de substâncias químicas (ácido tricloroacético a 80%, podoflina a 25%, imiquimod a 5%), eletrocoagulação, vaporização a laser e até mesmo cirurgia, todas tendo como objetivo principal a remoção das lesões condilomatosas. A escolha do tratamento vai depender do tamanho, localização e número das lesões. Os parceiros sexuais devem ser avaliados já que podem apresentar lesões subclínicas e, eventualmente podem ser transmissores de condiloma para outros (as) parceiros (as).
Em gestantes, devido a alterações hormonais e imunológicas próprias desta fase, os condilomas podem ser maiores e proliferarem com mais rapidez. Os tipos 6 e 11 podem provocar papilomatose na laringe de recém-nascidos mas é muito raro. O parto cesareano deve ser indicado apenas quando há obstrução do canal de parto ou quando há risco de sangramento excessivo pelo presença das verrugas. O tratamento se baseia nos mesmos princípios já mencionados, porém em gestantes está contraindicado o uso da podofilina, em qualquer fase da gestação.
Quando encontrados em crianças, até que se prove o contrário deve-se pensar em abuso sexual e serem tomadas medidas cabíveis nesta situação.

Como você pode ver, as verrugas genitais podem ser evitadas com atitudes simples como realizar seus exames periodicamente, evitar auto-medicação, manter sua imunidade equilibrada através de hábitos saudáveis de alimentação e exercícios físicos e usar preservativos nas suas relações sexuais, mesmo durante a gravidez. Porém, se você já se contaminou, o diagnóstico e tratamento são fáceis...procure seu médico.

Solange Portela, ginecologista

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