Longe de mim querer esgotar um assunto tão importante quanto este. Me proponho apenas a pontuar questões do dia a dia dos médicos, nossas dificuldades e nosso empenho no trato com nossos pacientes. Dedico essas poucas observações ao muito que aprendi sobre Ética e Relação Médico-Paciente com três grandes mestres: Dr. Alexinaldo Portela, meu pai, que me ensinou, entre outras coisas, "... se você escutar seu paciente, 80% do seu diagnóstico está feito"; Dr. Nelson Barros, amigo querido, ex-Secretário de Saúde da Bahia e pediatra dos meus filhos, que me disse na cerimônia da minha colação de grau "...nunca pare de estudar" e, Dr. Anibal Silvany, saudoso amigo e mestre, catedrático da Faculdade de Medicina da Ufba, que, entre tantas lições, me mostrou como ninguém a importância de saber observar a vida.
A relação médico-paciente é, na sua essência, uma relação de confiança. O estabelecimento dessa relação é que determinará a chance de sucesso, ou seja, o benefício para o paciente em consequência do saber do médico. Exige do profissional uma habilidade que não é ensinada nas faculdades de Medicina e, tão pouco se aprende em livros e, será determinante quanto aos efeitos produzidos no indivíduo e na sociedade.
São várias as publicações de renomados autores sobre o assunto, porém, na maioria das vezes abordadas de formas nem sempre alinhadas com as práticas de consultório, onde ela realmente se dá e onde aprendemos a desenvolver esta habilidade.
Quero dizer com isso que é olhando nos olhos do nosso paciente, ouvindo todas as suas queixas e fazendo um exame físico detalhado que poderemos entendê-lo e ajudá-lo. Temos que vê-lo como a uma pessoa, com atenção não somente na fisiopatologia mas também nos fatores sociais e emocionais vividos por ele. Pensando nisso digo que a primeira e principal questão, que leva o indivíduo a um consultório médico é "o que é que eu tenho?" e é a esta indagação que devemos procurar entender em toda a sua subjetividade e responder com a maior clareza possível. Não podemos esquecer que a ação terapêutica nem sempre depende de prescrição de medicamentos.
Nosso paciente merece de nós toda a nossa atenção e respeito, a despeito das limitações impostas pelos planos de saúde, do cansaço e stress inerentes à prática médica, das deficiências dos sistemas de saúde. Explicação precisa e feita com palavreado adequado sobre as questões trazidas, exames e medicações é fundamental para que as orientações sejam seguidas e o objetivo alcançado. Quanto maior o envolvimento e mais seguro o paciente se sentir, quanto melhor a relação interpessoal criada entre ambos, melhor será o resultado.
Solange Portela, ginecologista
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